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Índios Ashaninka lutam contra a força do narcotráfico na fronteira

“A proposta que fizeram era construir uma pista de pouso dentro de nossa Terra Indígena para retirar sua cocaína", diz líder indígena

No ano de 1999, o povo indígena Ashaninka, que vive ao longo do Rio Amônia, em Marechal Thaumaturgo, no Acre, foi testemunha da ousadia e poder financeiro de traficantes. Os rios, igarapés e caminhos por meio da floresta que separam o Brasil do Peru tornam essa região rota de drogas.
Francisco Piyãko Ashaninka, uma das lideranças da Aldeia Apiwtxa, relata à agência Notícias do Acre como foi feita a abordagem: “A proposta que fizeram era construir uma pista de pouso dentro de nossa Terra Indígena [T.I.], próximo à linha da fronteira para retirar sua cocaína. Diziam que estava ficando muito difícil pousar em território peruano, perdiam pessoas e dinheiro”, disse.
Comunidade Ashaninka é exemplo de que os povos indígenas acreanos dizem não às drogas (Foto: Diego Gurgel/Secom)

A proposta, que incluía ainda o pagamento de U$ 50 mil por avião pousado, foi plenamente recusada por toda a aldeia. “Eu pedi a palavra, em nome dos Ashaninka, e falei que como estávamos recebendo uma proposta numa relação de negócio, a nossa resposta era não, nossa comunidade é contra o narcotráfico, tráfico madeireiro e qualquer atividade ilícita, e nossa luta era por liberdade”, declarou Francisco.
O testemunho comprova que há muito tempo o narcotráfico utiliza o Acre como passagem da droga e que as fronteiras brasileiras são frágeis. O Peru é o segundo maior cultivador da folha de coca, planta tradicional usada para a produção da droga cocaína.
Francisco Piyãko relata como o povo Ashaninka enfrenta as forças do crime na fronteira com o Peru (Foto: Diego Gurgel/Secom)
O Brasil, além do segundo maior consumidor dessa droga, foi o principal país de partida dela para a Europa, no período de 2010 a 2015. No mesmo período, 33% da cocaína que chega no continente europeu são de produção peruana, o que mostra a dimensão da rota. Os dados são do Relatório Mundial sobre Drogas, lançado pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) de 2017.
Questão nacional
Nas semanas que antecederam o Encontro de Governadores do Brasil pela Segurança Pública e Controle das Fronteiras – Narcotráfico, uma emergência nacional – realizado no dia 27, em Rio Branco -, Piyãko, acompanhado de seu pai e sua mãe, conversaram com o governador Tião Viana para relatarem a preocupação de quem vive diretamente na fronteira.
“Neste momento sentimos que a presença do tráfico de droga é forte nas fronteiras, mas é feito de forma muito discreta. Só ações integradas entre os países, com serviços de inteligência, podem nos falar a dimensão deste problema”, explicou Francisco.
Os Ashaninkas vivem na região do Rio Amônia, em Marechal Thaumaturgo (Foto: Diego Gurgel/Secom)
Ele relata ainda um exemplo do risco de violência que correm os moradores de comunidades fronteiriças. “Três líderes Ashaninka da comunidade Saweto, no Peru, vizinho de nossa T.I., foram mortos por narco-madeireiros em 2014, quando vinham nos visitar”, afirma.
A posição do grupo Ashaninka foi clara quanto às drogas e movimentos ilegais em suas terras. Os moradores da aldeia realizam uma vigilância constante na região, contra o mal do narcotráfico e do crime. “Nosso povo Ashaninka não vai ceder aos traficantes, esta é uma escolha nossa nesta fronteira que estamos cuidando. Esperamos que as instituições brasileiras cumpram com seu papel e estejam juntas”, finalizou Francisco.


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