EM FEIJÓ: Projeto MP na comunidade realiza casamento de pessoas do mesmo sexo
O matrimônio
sempre foi e continuará sendo o maior sonho da maioria das pessoas.
Independentemente de gênero, raça ou classe social, elas sonham um dia
conhecer sua “outra metade”, casar e constituir família. Este era o
grande sonho de Éricka Martins, 25 anos de idade, servidora da Caixa
Econômica Federal no município de Feijó, no Acre, e Vanessa Freitas, 23
anos de idade, funcionária do Departamento de Trânsito do Acre, que no
dia 29 deste mês conseguiram, finalmente, concretizar seu sonho.
Durante a realização da 33ª edição do
projeto MP na Comunidade, pelo Ministério Público do Estado do Acre
(MPAC) e outras instituições parceiras no município acreano do Vale do
Envira, localizado a 362 quilômetros da Capital, Rio Branco, Éricka e
Vanessa, juntamente com outros 26 casais, tiveram a oportunidade de
responder “sim” e, desta forma, oficializar a união estável que elas
mantinham há dois anos e quatros meses.
“Desde que nos conhecemos e passamos a
morar juntas a gente sonhava com este momento”, conta Éricka, feliz com a
oportunidade surgida com a realização da edição do MP na Comunidade na
cidade de Feijó. Segundo ela, que é natural de Rio Branco, até chegar à
concretização de seu sonho muitas barreiras tiveram que ser transpostas:
o preconceito da maioria das pessoas, a não aceitação da família e de
parte da sociedade, e até mesmo a falta de oportunidade foram
determinantes para que seu sonho fosse adiado.
Éricka conta que o casamento realizado
durante o projeto do MPAC deu muita visibilidade à união do casal e
serve de incentivo para que outras pessoas que vivem situação parecida
com a dela e de Vanessa se decidam a buscar seu direito de ser feliz,
casando-se com os benefícios da lei. “Olha, estamos vivendo outro
momento”, ressalta, acrescentando que muitas pessoas têm vontade de
fazer como ela e Vanessa, porém não têm coragem, nem oportunidade.
“Em cidades maiores, a aceitação da
sociedade é muito maior. Já em lugares pequenos, como é o nosso caso, a
discriminação das pessoas é muito grande. Mas, não nos preocupamos com
isso e com essa oportunidade que o Ministério Público nos ofereceu
concretizar nosso sonho”, destaca Éricka, que auxilia na criação e
educação de uma filha pequena de Vanessa. “Com a oficialização do nosso
casamento tenho certeza de que a nossa filha vai entender o que
significa a nossa relação”, enfatiza.
Para
Vanessa, a oportunidade oferecida pelo Ministério Público e seus
parceiros serviu para “abrir os horizontes” de outras pessoas que pensam
da mesma forma que ela e sua parceira. Eles (o MPAC e parceiros) vieram
fazer o que a gente estava pensando”, afirma, acrescentando que que o
apoio da instituição ministerial simboliza o certificado de que a união
delas vai dar certo, pois garante, além de estrutura familiar, direitos e
deveres já regulamentados às famílias ditas tradicionais.
A proteção jurídica deve se constituir,
na avaliação de Vanessa, uma das maiores preocupações desses casais no
momento de decidir pelo casamento. “Além do respeito por formar um casal
reconhecido por lei, a gente tem a garantia de nossos direitos,
inclusive previdenciários”, enfatiza.
Ferramenta de inclusão
Para a coordenadora do CAV, procuradora
de Justiça Patrícia de Amorim Rêgo, o MP na Comunidade, a partir de
agora, vai ser mais uma ferramenta de inclusão, de fazer com que esses
casais consigam acessar e afirmar os seus direitos. “Nós sabemos que há
um desejo muito grande por parte de casais homoafetivos em realizar o
casamento e muitos deles não têm informação, não sabem como proceder,
não têm oportunidade”, salienta.
“O MP na Comunidade, a partir do que
aconteceu em Feijó, abre, inaugura uma nova era de direitos, eu diria
assim, de divulgar a possibilidade desse sonho ser realizado e de
possibilitar a esses casais que realizem esse sonho. Portanto, o
Ministério Público do Acre, na firme missão que lhe foi conferida de
afirmar direitos fundamentais, vai, através desse importante projeto,
mais uma vez, promover cultura de paz, disseminar e informar os direitos
fundamentais dessas pessoas que querem amar, que são diferentes, mas
que têm os mesmos direitos que os heterossexuais”, enfatiza Patrícia
Rêgo.
Derrubando barreiras
Nos últimos quatro anos, desde que a
Resolução n. 175/2013 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) entrou em
vigor, obrigando os cartórios a realizarem casamento entre casais do
mesmo sexo, mais de 15 mil casamentos homoafetivas foram realizados no
Brasil. Ao proibir que autoridades competentes se recusem a habilitar ou
celebrar casamento civil ou, até mesmo, a converter união estável em
casamento, a norma contribuiu para derrubar barreiras administrativas e
jurídicas que dificultavam as uniões homoafetivas no país. Para juízes e
cartorários, a medida foi um divisor de águas na sociedade.
Até 2013, quando ainda não havia essa
determinação expressa, muitos estados não confirmavam sequer uniões
estáveis homoafetivas, ainda que, em 2011, o Supremo Tribunal Federal
(STF) tenha afirmado essa possibilidade durante o julgamento de uma Ação
Direta de Inconstitucionalidade (ADI).
A decisão do STF dava margem a
interpretações diversas. E, sendo assim, os cartórios não se sentiam
obrigados. Com a publicação da norma do CNJ determinando o casamento
independentemente do entendimento pessoal do notário ou do registrador,
ficou determinado um marco legal para o tema.
Avanços nos direitos
Casamentos homo ou heteroafetivos não
diferem legalmente. O trâmite é o mesmo, os documentos necessários para
dar entrada no processo são iguais e os nubentes (sejam homens ou
mulheres) também possuem os mesmos direitos, como participação em plano
de saúde, pensão alimentícia e divisão dos bens adquiridos.
Caso algum cartório não aplique as
regras da Resolução do CNJ, os casais podem levar o caso ao conhecimento
do juiz corregedor competente para que ele determine o cumprimento da
medida. Também pode ser aberto processo administrativo contra a
autoridade que se negar a celebrar ou converter a união estável
homoafetiva em casamento.
Texto: Antonio Kléber
Fotos: Otília Neta
Agência de notícias MPAC
Fonte: http://www.mpac.mp.br
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